Wednesday, August 25, 2004

Vamos lá a ver se é desta que vou ser finalmente criticado...
A palavra eutanasia vem do grego, Eu = Boa e Tanathos = morte, então: Eutanasia = "Boa morte". Não confundir isto portanto, com significados mais duvidosos a que esta palavra foi associada, tais como as supostas eutanásias perpetradas durante o período conturbado a que a Europa assitiu durante a década de 40, ou com a ridícula intenção de muitos de associar a eutanásia àqueles que por qualquer motivo querem cometer suicídio e se aproveitam para reclamar o direito à eutanásia.
Do que venho aqui falar, é apenas e só, o direito a que um cidadão tem de reclamar para si a " boa morte " assistida, acompanhada e digna.
A questão aqui que minimamente preocupa é apenas uma. Qual o motivo que leva a grande maioria das classes dirigentes, e aquelas que podem de facto determinar a legalidade da eutanásia, estarem rigorasamente contra a legalização deste acto ? Não falamos nós na dignidade de um ser humano ? Alguém que quer ter tanta dignidade na morte como aquela que lhe foi conferida enquanto vivo ? E esse direito, o da dignidade, é extremamente importante, pois confere respeito próprio e exige-o aos demais para com a pessoa. E não é isso que todos nós em vida desejamos ? Obviamente que é !
Com que cara pode alguém olhar para um doente terminal, sem hipótese de recuperação, de lhe dizer " não o vou ajudar a morrer " ? Sim, porque não nos iludamos, ajudar a morrer, não matar, é tão importante como ajudar alguém a viver. Ou será que é também indiferente ajudar um indivíduo a viver ? Ajudar a trazer ao mundo, a ensinar os primeiros passos... As primeiras palavras... O primeiro dia de escola... A universidade... O primeiro emprego.... O Casamento... O primeiro filho... A reforma.... E a morte.... Não serão todas estas etapas da vida humana, e mais ainda pelo meio, todas de igual importância ? Não será direito ter assitência em todas elas ? Claro que é. Porque se a primeira é difícil, esse grau de dificuldade apenas aumenta com o passar do tempo, e para quem se sente fraca, debilitado e sem apoio, esse auxílio ou assistência são sempre um bem, um conforto...
Ou será preferível ter uma pessoa numa cama de hospital, a morrer aos poucos, a assistir à sua própria degradação física e psicológica até tudo parar ? E mesmo parando o cérebro, será ainda de manter um indivíduo vivo apenas com o coração a bater ? Sabendo à partida que nunca mais nada irá recuperar essa mesma pessoa ? Pois para mim não !
Já assisti, das poucas e raras vezes que, felizmente, entro num hospital, a algumas pessoas nessas condições degradantes, apenas e só por um grupo de médicos não concorda com a morte assistida. Com o ajudar a uma outra passagem de forma digna. Pessoas a quem já nem os seus familiares mais directos visitavam no hospital porque ou já não se interessavam, não suportavam ou simplesmente percebiam que aquele ser que ali estava já não era aquele que durante anos sem fim tinham visto como uma pessoa VIVA.
Defendi e defendo a legalização da eutanásia, como forma de ajudar um cidadão que morre de forma indigna e dolorosa a poder atenuar o seu sofrimento, bem como o sofrimento daqueles que o rodeiam. De mais forma alguma. Nunca como uma forma de suicídio. Apenas como uma forma atenuante para aqueles que sofrem sem hipótese de recuperação.
Defendo a sua legalização porque é aquilo que para mim desejo, caso me veja numa situação sem retorno e sem recuperação. A morte assistida. E aplaudo aqueles que tiveram coragem de a tornar uma medida legal, como por exemplo a Holanda, tendo pena que o meu país não me reconheça tal direito, se no dia de amanhã me acontecer algo que me incapacite, e que além de provocar o meu próprio sofrimento, o provoque também àqueles que me rodeiam.
Um abraço de força e coragem àqueles que infelizmente se têm de debater com estes problemas e situações.

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