Saturday, March 12, 2005

MADRID
Tomei o primeiro contacto com esta cidade no já distante ano de 1990. Com os meus apenas 10 anos de idade, aquilo que me interessava mais era saber se tinha "coisas giras" para ver. Se existia algo que me despertasse o interesse e me fizesse gostar do passeio. A única coisa que achei piada foram os enormes jardins, que suponho serem do Museu do Prado, que além de alguma esculturas que lá tinham na altura, tinha já instrumentos centenários também espalhados pelos mesmos.
E claro, qual a típica viagem por um país de futebol, que não consagrasse uma passagem por um dos seus mais emblemáticos estádios, o Santiago Barnabéu, que, como é óbvio, tinha de lá estar. Enfim... Coisas pequenas que me satisfazem ( ou satisfaziam ) os horizontes. Não eram pequenos, eram apenas mais limitados !
Algo sempre me ligou tanto a Espanha como a Itália, e aqueles que de mais perto comigo privam bem o sabem. Tenha Portugal um defensor tão grande em nacionais destes países, como têm os mesmos aqui na minha pessoa, alguém que os defenda das línguas mal-dizentes que povoam o espírito português. Esse "algo" que me ligava a estes países, era nesta altura algo que me ultrapassava. Algo que com a maturidade ( alguma ) e com o passar do tempo se veio a descobrir. Falo das minhas raízes. As minhas origens. Aquela empatia que se sente por algo sem saber de facto o porquê, e que com o tempo se desmistifica. É o tal "chamamento do sangue" como por vezes em tom de piada ( mas com muito sentimento ) digo, que sempre me fez olhar para o outro lado, com os meus verdadeiros olhos. Não estes verdes que tenho na cara, mas os que no fundo expressam o nosso pensamento.... Os "olhos" do coração.
Já por duas vezes que fui acordado com a frase " Paulo acorda que se passou algo ! "... Algo que seria melhor nunca ter acontecido... Momentos que não deveria ter visto... Palavras que deveria não ter escutado...
Tal como aproximadamente 3 anos antes... Ao acordar e ligar a televisão vi aquilo que não esperava ter visto. Tal como no 11 de Setembro de 2001 de Nova York e Washington, também o 11 de Março de 2004 passou a fazer parte do meu imaginário do macabro. O meu imaginário da podridão humana que invade cada vez mais a mente e o coração dos povos... Das pessoas... Pessoas ?... Vis seres que povoam o mesmo espaço que nós, e que resolvem chamar a atenção do Mundo cometendo exactamente o mesmo que eles próprios condenam... a Morte. A morte não de políticos ou militares que, segundo a sua opinião, provocam o pânico, o medo e a destruíção, mas sim a morte daquelas centenas ou milhares de pessoas que têm como único crime fazerem as suas vidas normais, mais ou menos felizes, com mais ou menos problemas e mais ou menos dívidas.
Alegrias, felicidades, problemas, risos, choros, raivas, angústias, êxtase.... O Fim.... Tudo acabou nesse dia para quase duas centenas de pessoas, que tiveram como o seu "crime" estarem num local errada a uma hora errada !
O mesmo povo que há anos vive com o problema do terrorismo interno, e que o tenta resolver dentro das suas possibilidades, teve neste dia o maior atentado terrorista provocado não pelos seus ( não que isso servisse como atenuante ), mas por outros que se resolveram a envolver mais pessoas que tinham como seu principal "mal" falarem Castelhano e estarem em Madrid.
Muitas palavras poderia escrever... Banalidades e trivialidades que a nada ou ninguém diriam rigorasamente NADA. Apenas palavras que ninguém lia ou se enjoavam ao fim de três ou quatro linhas.. Por isso o meu pensamento ficará para mim guardado, até que um dia alguém o ouse descobrir e desvendar.
Apenas espero não acordar mais com as palavras "Paulo aconteceu algo", porque saberei à partida que se as ouvir, também uma parte minha morrerá mais um pouco !
XXX A MADRID XXX

No comments: